» VINNY MAGALHÃES FALA SOBRE CHAEL SONNEN

Aqui estão as entrevistas concedidas pelo treinador Vinny Magalhães, ao PVT e à Tatame.

Resolvemos colocá-las na íntegra porque nelas Vinny diz muitas coisas relevantes e muitas delas vão de encontro a vários de nossos argumentos sobre Chael Sonnen.

Vale a pena ler!!!

PVT: Como você analisa a evolução de Chael Sonnen no solo?

Vinny Pezão: Eu tenho o mesmo sentimento que a galera teve. Realmente o chão dele foi melhorado, mas eu não fiquei feliz só com isso. Meu trabalho não era fazer ele apena passar a guarda, era fazê-lo vencer, e ele não venceu. Não vou levar a culpa do negócio porque ele perdeu não perdeu a luta no chão. Eu estou meio triste ainda com isso. Assistindo lá em casa, quando acabou o primeiro round eu pensei: 'Agora a luta está na nossa mão'. Porque eu não achava que o Chael iria trocar com o Anderson, porque o Anderson é o melhor da categoria, se não for o melhor do esporte na luta em pé. 

PVT: Acha que a estratégia usada foi errada? Ele deveria evitar a trocação?

Vinny Pezão: Eu passei duas semanas treinando direto com o Chael e minha parte era só o chão, e foi o que eu fiz. Eu nunca conversei estratégia com os treinadores dele. No meu ponto de vista, pensei que a estratégia seria só colocar o Anderson para baixo, e, conseguindo, tentar finalizar ou nocautear no chão. Aí, quando o cara dá aquele soco do giratório do nada e cai no chão, eu não vou culpar ninguém a não ser os treinadores. Pelo que eu conheço do Chael, ele não é um cara que faz o que os treinadores mandam fazer. Como o que aconteceu no nosso treino. Quando ele defendeu aquela travada de perna que o Anderson gosta de fazer na meia-guarda,trabalhar na meia guarda, chegar na montada, onde o Anderson não teria ataque nenhum, foram tudo coisas que a gente treinou. Ou seja, ele confiou 100% em mim, e fez. Acredito que o soco giratório que ele deu foi algo que os treinadores falaram. Então fica até difícil culpar o cara. Eu não estava lá, fica difícil dizer.

PVT: Você conviveu com o Sonnen na casa dele. Como ele é por trás das câmeras? Como ele te tratou?

Vinny Pezão: O Chael, dos americanos, é um dos poucos que tem um calor humano que ele tem. Lembro que quando eu cheguei no aeroporto foi ele que me buscou para gente começar a treinar. Eu ia apertar a mão do cara, como é o que se faz aqui, e ele já veio e me deu um abraço. Po, o cara tem um calor humano diferente. Convivendo na casa dele, sempre conversava com o melhor amigo dele, a esposa dele e ele. Sempre falava da família, o tempo todo. Ele dá treinos de Wrestling para crianças na escola onde ele treinava, duas vezes por semana, sem ganhar nada por isso, ia voluntariamente, só para ajudar. O cara tem um coração bom, só que ele queria vender o peixe dele, e muita gente não gostou. Mas aquilo, pelo que eu vi, posso ter certeza, que foi só um personagem para vender a luta. De repente ele escolheu o personagem errado, ele não é nada daquilo. Falaram que ele se envolveu com lavagem de dinheiro, mas isso é pessoal dele, foi um erro que ele cometeu, mas não tem nada a ver com o ser humano dele. É difícil até para eu entender o porquê de ele ter feito a lavagem de dinheiro, porque não condiz com o Chael que eu conheci.

PVT: Nos Estados Unidos existe uma cultura de Pro Wrestling, o que não temos no Brasil, de ter o mocinho e o vilão. Até que ponto isso foi importante para o desenho desta revanche?

Vinny Pezão: Ele está nesse esporte de 1999. Até ele chegar no UFC e falar essas coisas ninguém conhecia ele. Ele lutou pelo título do WEC, e mesmo assim não tinha feito o nome. Aí chega no UFC, é finalizado, ganha duas lutinhas meia-boca, tem a luta do Anderson, começa a falar e de repente é o segundo nome da categoria. Ele sabia que isso vendia. Sobre a cultura, aqui nos Estados Unidos não querem saber quem é o melhor e quem é o pior, eles querem saber quem é que fala mais. E o Chael soube fazer isso. Acima de tudo é negócio.

PVT: Mas você não acha que ele passou dos limites ao falar da família do Anderson e dos irmãos Nogueira?

Vinny Pezão: É aquele negócio do personagem que ele fala muitas besteiras, lógico ele falou muita besteira, mas ele sentiu que as brincadeirinhas de leves não estavam dando certo e ele passou a pegar mais pesado. Eu faria a mesma coisa? Claro que não. Mas ele fez. Então, posso não concordar, mas quem sou eu para julgar? A ideia era só vender a luta. Pelo que foi reportado, o cara deve ter feito mais de 2 milhões com essa luta. É aquilo, para o cara que já tem 36 anos, perdeu duas lutas de título, então, é melhor pensar em uma aposentadoria segura. Quem não quer chegar hoje em dia e fazer 2 milhões em uma noite, em 7 minutos? Sair do octógono com a cara praticamente limpa, ter pelo menos mais uns 50 anos de vida e 2 milhões no banco? Todo mundo queria.

PVT: Você disse que o Sonnen deve ter faturado uns 2 milhões com a luta. Você não sabe ao certo, mas quanto o Anderson deve ter faturado?

Vinny Pezão: Existe um rumor aqui nos Estados Unidos de que o Anderson ganhou 7 milhões só pela luta ter mudado do Brasil para Vegas. E tem aquele negócio, o Anderson deve ganhar 250 mil só para lutar, tem patrocínios, e quando tu vai ver, mais 750 mil de patrocínio, dizem que o Jon Jones tira 3 dólares por PPV vendido. O Anderson, por ter uma carreira mais sólida, acredito que esteja na mesma. Vamos dizer que deu 1 milhão de vendas e o Anderson tirou 3 dólares por PPV vendido, fez 3 milhões só em PPV. Então ele deve ter tirado uns 10 milhões só nessa luta, ou seja, as besteiras que o Chael falou não foram tão melhor para ninguém quanto para o Anderson.

TATAME : Comente um pouco dessa luta do Sonnen com o Anderson, já que você ajudou o americano na parte de chão. No primeiro round, ele foi perfeito. O que deu errado depois disso?

Cara, no primeiro round, na verdade, ele chegou a cair em uma posição que eu não queria, que foi quando ele ficou com a perna travada na meia-guarda. Ele conseguiu consertar aquela mesma técnica, conseguiu trazer o pé para dentro, não ser travado, fez a passagem chegando na meia-guarda. Eu falei: ‘o risco de você ser finalizado é na guarda fechada’, o que ele deu mole também no início, um pouco. Era para ele ficar na meia-guarda, mas não deixar o Anderson trancá-lo, o que, em um momento, aconteceu, mas ele conseguiu sair. Depois ele conseguiu a montada, e eu falei que o Anderson, com ele na montada, teria um prejuízo. No primeiro round, achei que ele poderia ter tentado mais finalização, que aparentemente não tentou. Foi o que eu falei antes: o problema no chão, não é que ele não tem um jogo bom por cima. Ele tem um jogo bom por cima e um Jiu-Jitsu até bem ofensivo, pelo menos em treino, mas de vez em quando dá um branco no cara.

TATAME : Você acha que faltou confiança para o Sonnen no chão?

O cara não tem confiança para trocar uma finalização. Se fosse ver pelo meu trabalho, fiquei feliz com o meu resultado de trabalho – duas semanas que eu passei com ele, ele aprendeu, deu valor para o meu trabalho e confiou. Na verdade, eu falei para ele: “Não estou te mostrando um negócio aleatório. Estou te mostrando um negócio que vai funcionar com o Anderson’. Fiquei estudando o jogo do Anderson no chão pela última luta e pelas últimas lutas dele também. Sabia que, se ele fizesse o jogo que eu falei no chão, ele dominaria. Só que é aquele negócio: a luta não é vencida pelo round que ele foi melhor. A luta é vencida como um todo. Apesar de o meu trabalho ter sido bem feito, de um modo geral, fiquei triste pelo resultado não estar dentro do esperado.

TATAME : O que você acha que deu errado no segundo round? Qual era a estratégia? Fazer aquele mesmo jogo do primeiro round?

Cara, se eu fosse o head-coach do Chael, a estratégia seria Wrestling e Jiu-Jitsu. Não treinei soco. Os socos seriam só para trabalhar as quedas e mais nada. O Chael é um cara que é forte fisicamente, é um cara que tem um domínio bom de chão, é pesado por cima. Não é nem peso físico, é peso de força. O cara é pesado por cima, sabe controlar no chão muito bem, ainda mais depois de trabalhar um pouco comigo no chão, só que, por algum motivo, a estratégia parece que foi outra. Na verdade, eu fiquei chateado pessoalmente com o treinador dele porque era um cara que treinava isso com ele, o cara que treinava aquele soco giratório. Não é um negócio que tem a ver com o jogo dele. O cara é um wrestler. O cara está pensando em botar a luta pra baixo e finalizar, mais nada. De repente tentar um ground and pound? Sim, mas na primeira luta ele já deu mole com isso. Vamos usar o jogo de Grappling, vamos jogar finalização e queda. Acabou. Só que aparentemente não foi isso que o treinador pensou e ele pagou por isso. É aquele negócio do ego também... No segundo round, eu falei: ‘mereceu. Eu não queria que o cara (Anderson) tivesse vencido, mas mereceu vencer’. O cara fugiu da estratégia que seria melhor para ele (Sonnen). Perdeu porque cometeu erro.

TATAME : Você o conhece pessoalmente. O que você achou da postura dele depois da luta, elogiando a torcida brasileira e o próprio Anderson? Como você viu isso?

Cara, o Chael é um cara que não dá muitas desculpas. Apesar de ele falar que não perdeu a primeira luta, isso é tudo brincadeira. Ele é um atleta, é um cara que não dá muita desculpa. Claro que ele não vai ficar falando que o cara fez isso, fez aquilo, o cara perdeu e ele sabe como é. Como eu também sei, como atleta. Você perde e não tem como dar desculpas, não tem como ficar falando ‘perdi porque não estava focado, perdi porque estava machucado’. Não. Você perdeu porque o cara foi melhor lutador do que você. Foi exatamente o que o Chael falou. A partir de agora, as pessoas vão começar a entender como o cara é como pessoa, como atleta. O cara luta desde os quatro anos de idade, sempre teve disciplina para treinar e tal. É aquele negócio: o cara não é disciplina no treinamento só. As pessoas vão parar de confundir o fato de ele ter tentado vender a luta com o Anderson e ele como pessoa. Ele é um cara que o que você mais destaca nele vai ser o respeito. Diferente de muitos americanos, ele é um cara que, quando te vê, se você é um amigo, vai te dar um abraço, não vai ficar te dando aquele aperto de mão frio. Até mesmo no dia que eu saí da casa dele, ele estava com a namorada dele, então não pôde me deixar no aeroporto. Ele teve que pedir para o amigo dele me deixar, mas mandou mensagem pedindo desculpas por não ter me dado um abraço antes de ir. É um cara que tem aquele negócio da amizade forte, que trata todo mundo bem no dia a dia, porém exagerou um pouco nas brincadeiras. Acho que, a partir de agora, como ele já perdeu para o Anderson duas vezes, ele vai ter que deixar esse personagem de lado e vai mostrar quem ele é de verdade.

TATAME : Como você vê a carreira dele na categoria? Acha que ele ainda está perto de uma outra chance pelo cinturão?

Eu acho que o Anderson não perde de ninguém na categoria. Ninguém vai ter o jogo de Wrestling do Chael, e acho que essa é uma fraqueza do Anderson ainda. Ninguém vai ter o jogo de Wrestling do Chael. O Muñoz não duraria dois minutos em pé com o Anderson. Tem o Chris Weidman, que é um cara novo, bom de Wrestling, mas também não duraria com o Anderson em pé. O Hector Lombard, já ouvi falar que ele treina com uns caras que são wrestlers, mas não é um cara que bota pra baixo, é um cara que é botado para baixo fácil, então não vejo ele com o Anderson, até porque ele é mais curto e o Anderson longo. Muito melhor em pé, muito mais rápido. Não vejo adversário para o Anderson. Em relação ao Chael, acho que, para ele chegar ao Anderson de novo, daqui um ano, dois anos, ele vai continuar sendo campeão. Se o Chael decidir lutar pelo título de novo, ele vai precisar de mais umas três, quatro vitórias em cima dos caras tops. Não sei se ele está disposto a fazer isso nesse ponto da carreira. Ele teve as duas chances dele, desperdiçou as duas, então não sei se vai acontecer mais. Se ele continuar lutando, vai fazer duas, três lutas e daqui a pouco ele para de lutar também.

TATAME : Quem deve ser o próximo adversário dele? Nos bastidores, ele já falou algum nome de caras que quer lutar?

Conversei com os amigos dele, com o treinador dele e mandei uma mensagem. Acho que a luta que faria mais sentido seria com o Michael Bisping, que foi uma luta apertada, apesar de os números dizerem que o Chael realmente ganhou a luta. Ainda sim foi uma luta apertada. É aquele negócio: se ele ganha do Bisping, o Bisping, apesar de estar bem ranqueado na categoria, não vai mudar muito. O cara perdeu duas vezes para o campeão, falou o monte de besteiras que falou, o recorde dele é aquele negócio: é um cara que se deu bem nas últimas lutas, deu uma dura no Anderson nas duas lutas que fez com ele, mas o recorde dele não é aquela coisa que eu ache que o UFC vá investir para torná-lo campeão a partir de agora. Não vejo o Chael disputando o título por, pelo menos, dois anos, a não ser que consiga vencer uns quatro, cinco tops da categoria, o que demoraria, pelo menos, uns dois anos para